Por Jéssica Blaine – estudante de jornalismo e bolsista no NuCA/SIPAD
Na última sexta-feira (27), as inscrições manuais para o XXIV Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná foram concluídas. No decorrer de um mês, o Núcleo Universitário de Educação Indígena (NUEI) esteve presente nas 4 aldeias de Curitiba e Região Metropolitana para a realização das inscrições manuais. As inscrições foram feitas na Aldeia Território Sagrado Floresta Indígena Estadual Metropolitana de Piraquara; Aldeia Araçaí; Aldeia Kógunh Jã Mã (antigo Parque Histórico do Mate) e Aldeia Kakaneporã.
A fase de inscrições do Vestibular Indígena é dividida entre online e manual com o objetivo de ampliar o acesso para pessoas de comunidades tradicionais indígenas. As inscrições online encerram-se em 3 de outubro.
Através do Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná, são ofertadas anualmente para além dos processos seletivos regulares, e de forma exclusiva aos integrantes indígenas das comunidades tradicionais do estado, 6 vagas suplementares nos cursos de graduação das Universidades Estaduais do Paraná. No caso dos cursos de graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), são ofertadas 10 vagas suplementares.
Participam deste Vestibular 8 universidades, sendo que a cada ano se intercala a universidade organizadora. Na edição deste ano, a instituição de ensino responsável é a Unioeste.
Mantendo o modelo do ano passado, o vestibular será organizado da seguinte maneira: no primeiro dia de prova (24/11), os candidatos serão avaliados quanto a proficiência na Língua Portuguesa, por meio de uma prova oral. Já no segundo dia (25/11), será aplicada a prova de Redação e a prova objetiva com questões das disciplinas de Biologia, Física, Geografia, História, Matemática e Química, bem como Lingua Portugesa e Língua Estrangeira Moderna (Inglês ou Espanhol) ou Língua Indígena (Kaingang ou Guarani).
As inscrições por meio online continuam abertas no site da Unioeste até às 17h da próxima quinta-feira (03/10): https://www.unioeste.br/portal/vestibular/indigena.
Por Jéssica Blaine
Em 2019, as então universitárias da UFPR Ana Carolina Dartora e Fernanda Lucas Santiago tiveram a iniciativa de criar o Seminário Pretas Acadêmicas: Pesquisadoras Pretas na Academia, com a colaboração da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola do Paraná e de pesquisadoras associadas ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UFPR). Em 2023, a partir de uma demanda das primeiras organizadoras, a Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD/UFPR) assumiu a organização desse seminário, que está se incluindo entre os principais eventos referente a comunidade acadêmica negra feminista no Brasil. O evento acontece todo mês de julho, período do ano que marca a celebração e homenagem da mulher negra latino-americana e caribenha. O seminário é parte integrante do julho das Pretas Paraná, uma ação conjunta e propositiva criada em 2013 que é composta por organizações e movimentos brasileiros de mulheres negras no fortalecimento da atuação política coletiva e autônoma delas em diversas esferas sociais.
A edição deste ano recebeu como temática “Trajetórias” e aconteceu nos dias 26 e 27 em formato híbrido, o que possibilitou um alcance muito mais amplo. “Nesse ano foi aberta a possibilidade de participação de pesquisadoras de todas as regiões do Brasil”, informa a coordenadora do evento, Drª Silvia Maria Lima. A edição contou com um total de 266 participantes (entre palestrantes e ouvintes) e 15 grupos de pesquisas, que abrangeram as mais diversas temáticas. Políticas Afirmativas na universidade; mulheres negras na gestão; desenvolvimento socioemocional para mulheres negras atuantes na área da tecnologia; literatura negra infantil e decolonialidade na moda foram apenas algumas entre elas.
Um levantamento recente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), comprovou uma elevação significativa da presença de mulheres negras dentro da universidade, conquista que só vem sendo possível através das diversas ações afirmativas adotadas pelo ensino superior em todo o Brasil no decorrer da última década. De acordo com os dados, em 2006, não muito tempo atrás, as mulheres negras representavam apenas 28% dos estudantes bolsistas do Prouni nos dez cursos mais procurados no país. Em 2020 esse percentual passou corresponder à 38%. Ainda assim, a realidade atual carece de um intenso avanço na promoção de uma maior igualdade racial nos campis, principalmente nas Federais brasileiras; não apenas no que se refere aos graduandos, mas também às demais categorias que compõem o ensino superior público. Dados da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal do Paraná comprovaram que, dos 3.212 técnicos administrativos em educação lotados na UFPR, 401 são pardos e apenas 122 pretos.
É em busca de mudar tal realidade que atua o Pretas Acadêmicas. O objetivo do Seminário é promover anualmente o encontro de estudantes e pesquisadoras pretas em diversos níveis de formação e, assim, fomentar a produção intelectual, acadêmica/ativista das brasileiras negras. O evento busca contrapor a invisibilidade negra que ainda persiste nestes espaços e conhecer e prestigiar o trabalho acadêmico de mulheres pretas do Paraná e de outros estados.
A 4° edição do evento aproveitou a ocasião para homenagear dois grandes nomes do ativismo feminino negro paranaense contemporâneo: a Deputada Federal Carol Dartora, que esteve presente na abertura do evento, e a assistente social Rita de Cassia Melo, que veio a falecer em junho deste ano.
Carol Dartora fez história de muitas formas. Ela é a primeira Deputada Federal Negra do Paraná, eleita em 2022 pelo Partido dos Trabalhadores. Com 130.654 votos, foi a mulher mais votada de Curitiba. Em 2020 foi eleita a primeira vereadora negra da história da capital sendo a terceira mais votada. Como professora, não se cansa de defender a educação pública, uma pauta que ela guarda no peito. Defende a construção de uma educação pública, laica e de qualidade para todas as pessoas, desde a educação básica até o ensino superior. Carol é também militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro Unificado e foi secretária estadual da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTQIA+ da APP Sindicato.
Rita de Cassia Mello foi uma assistente social negra, guerreira, que sempre teve pressa em mudar o racismo e o sexismo. Viveu na pele as dificuldades que mulheres negras do mundo inteiro enfrentam na tentativa de conquista de espaço e melhoria de vida. Ingressou em um grupo de mulheres negras, a Casa das Pretas, onde participou ativamente. Em 2023, iniciou um grupo de trabalho para formação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que foi crescendo e se tornando cada vez mais relevante na capital paranaense graças a sua persistência. De boca em boca, Rita convidava curitibanos para participarem do movimento. Até hoje o grupo atua na organização de iniciativas que fomentam debates significativos para a comunidade negra. Em junho de 2024, Rita fez sua passagem, deixando um grande legado. Lutou pela justiça até o fim de sua vida. Esteve presente na edição do Pretas Acadêmicas de 2023, quando disse que “se sentia representada e renovada com os aprendizados recebidos”.
Além das homenagens e mesas dos grupos de pesquisa, a programação do IV Seminário Pretas Acadêmicas contou com uma mesa de abertura composta por grandes protagonistas do feminismo negro acadêmico, assim como duas palestras principais: Educadoras Negras – Projetos voltados à Educação Antirracista e Mulheres Negras – Trajetórias de Luta.
O conteúdo do seminário pode ser conferido na íntegra através do canal do YouTube da SIPAD.