Por Jéssica Blaine
Em 2019, as então universitárias da UFPR Ana Carolina Dartora e Fernanda Lucas Santiago tiveram a iniciativa de criar o Seminário Pretas Acadêmicas: Pesquisadoras Pretas na Academia, com a colaboração da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos(as) professores(as) e funcionários(as) de escola do Paraná e de pesquisadoras associadas ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UFPR). Em 2023, a partir de uma demanda das primeiras organizadoras, a Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD/UFPR) assumiu a organização desse seminário, que está se incluindo entre os principais eventos referente a comunidade acadêmica negra feminista no Brasil. O evento acontece todo mês de julho, período do ano que marca a celebração e homenagem da mulher negra latino-americana e caribenha. O seminário é parte integrante do julho das Pretas Paraná, uma ação conjunta e propositiva criada em 2013 que é composta por organizações e movimentos brasileiros de mulheres negras no fortalecimento da atuação política coletiva e autônoma delas em diversas esferas sociais.
A edição deste ano recebeu como temática “Trajetórias” e aconteceu nos dias 26 e 27 em formato híbrido, o que possibilitou um alcance muito mais amplo. “Nesse ano foi aberta a possibilidade de participação de pesquisadoras de todas as regiões do Brasil”, informa a coordenadora do evento, Drª Silvia Maria Lima. A edição contou com um total de 266 participantes (entre palestrantes e ouvintes) e 15 grupos de pesquisas, que abrangeram as mais diversas temáticas. Políticas Afirmativas na universidade; mulheres negras na gestão; desenvolvimento socioemocional para mulheres negras atuantes na área da tecnologia; literatura negra infantil e decolonialidade na moda foram apenas algumas entre elas.
Um levantamento recente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), comprovou uma elevação significativa da presença de mulheres negras dentro da universidade, conquista que só vem sendo possível através das diversas ações afirmativas adotadas pelo ensino superior em todo o Brasil no decorrer da última década. De acordo com os dados, em 2006, não muito tempo atrás, as mulheres negras representavam apenas 28% dos estudantes bolsistas do Prouni nos dez cursos mais procurados no país. Em 2020 esse percentual passou corresponder à 38%. Ainda assim, a realidade atual carece de um intenso avanço na promoção de uma maior igualdade racial nos campis, principalmente nas Federais brasileiras; não apenas no que se refere aos graduandos, mas também às demais categorias que compõem o ensino superior público. Dados da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal do Paraná comprovaram que, dos 3.212 técnicos administrativos em educação lotados na UFPR, 401 são pardos e apenas 122 pretos.
É em busca de mudar tal realidade que atua o Pretas Acadêmicas. O objetivo do Seminário é promover anualmente o encontro de estudantes e pesquisadoras pretas em diversos níveis de formação e, assim, fomentar a produção intelectual, acadêmica/ativista das brasileiras negras. O evento busca contrapor a invisibilidade negra que ainda persiste nestes espaços e conhecer e prestigiar o trabalho acadêmico de mulheres pretas do Paraná e de outros estados.
A 4° edição do evento aproveitou a ocasião para homenagear dois grandes nomes do ativismo feminino negro paranaense contemporâneo: a Deputada Federal Carol Dartora, que esteve presente na abertura do evento, e a assistente social Rita de Cassia Melo, que veio a falecer em junho deste ano.
Carol Dartora fez história de muitas formas. Ela é a primeira Deputada Federal Negra do Paraná, eleita em 2022 pelo Partido dos Trabalhadores. Com 130.654 votos, foi a mulher mais votada de Curitiba. Em 2020 foi eleita a primeira vereadora negra da história da capital sendo a terceira mais votada. Como professora, não se cansa de defender a educação pública, uma pauta que ela guarda no peito. Defende a construção de uma educação pública, laica e de qualidade para todas as pessoas, desde a educação básica até o ensino superior. Carol é também militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro Unificado e foi secretária estadual da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTQIA+ da APP Sindicato.
Rita de Cassia Mello foi uma assistente social negra, guerreira, que sempre teve pressa em mudar o racismo e o sexismo. Viveu na pele as dificuldades que mulheres negras do mundo inteiro enfrentam na tentativa de conquista de espaço e melhoria de vida. Ingressou em um grupo de mulheres negras, a Casa das Pretas, onde participou ativamente. Em 2023, iniciou um grupo de trabalho para formação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que foi crescendo e se tornando cada vez mais relevante na capital paranaense graças a sua persistência. De boca em boca, Rita convidava curitibanos para participarem do movimento. Até hoje o grupo atua na organização de iniciativas que fomentam debates significativos para a comunidade negra. Em junho de 2024, Rita fez sua passagem, deixando um grande legado. Lutou pela justiça até o fim de sua vida. Esteve presente na edição do Pretas Acadêmicas de 2023, quando disse que “se sentia representada e renovada com os aprendizados recebidos”.
Além das homenagens e mesas dos grupos de pesquisa, a programação do IV Seminário Pretas Acadêmicas contou com uma mesa de abertura composta por grandes protagonistas do feminismo negro acadêmico, assim como duas palestras principais: Educadoras Negras – Projetos voltados à Educação Antirracista e Mulheres Negras – Trajetórias de Luta.
O conteúdo do seminário pode ser conferido na íntegra através do canal do YouTube da SIPAD.
Você já se perguntou como é a designação de cores na Língua Brasileira de Sinais (Libras)? Ou como se nomeiam lugares na língua da comunidade surda? É sobre esse e outros temas que seis pesquisadores surdos do Programa de Pós-graduação em Letras da UFPR defenderam suas dissertações de mestrado em fevereiro deste ano. Além deles, é importante mencionar, também defenderam suas dissertações dois intérpretes de libras, entre eles, a Priscila Simões da SIPAD!
Este é, com certeza, um marco histórico para o programa, que nunca havia contado com a defesa de titulação um grupo expressivo de alunos da comunidade surda no mesmo período, bem como para a comunidade surda brasileira, que cada vez mais conquista espaços na academia. Destaca-se também nesse processo o fato de que três das dissertações foram integralmente feitas em libras; uma delas em libras e português e três em português com resumo em libras!
O Prof. Dr. André Nogueira Xavier é o orientador de todos os trabalhos. Em entrevista ao portal da UFPR, ele conta que o programa consolida desde 2020 uma política de inclusão de alunos surdos, contando com aulas ministradas em Libras e com o incentivo para a produção acadêmica na língua da comunidade surda, entre outras iniciativas.
A inclusão de alunos surdos também incorpora ações de acessibilidade linguística, com a tradução de regimentos e editais para Libras. Intérpretes também participam de processos seletivos, reuniões com alunos, disciplinas e bancas de qualificação e defesa, em trabalho desenvolvido em parceria com a Sipad.
Se interessou? Confira todas as dissertações através dos links abaixo:
Amanda Regina Silva
Refinamento da categorização de processos fonológicos na Libras
Cód. Tít. 430878 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88303
Rafaela Korossy
Estudo da incorporação de numeral em Libras com base em dados de sinalizantes surdos pernambucanos e paranaenses
Cód. Tít. 430910 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88361
Mirella de Oliveira Pena Araújo
Análise morfológica de topônimos que nomeiam municípios da zona da mata mineira em Libras
Cód. Tít. 430908 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88365
Ronaldy Pavão Heitkoetter
Descrição e análise de aspectos formais de boias de listagem em Libras
Cód. Tit. 431333 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88428
Priscila Mara Simões
Modalizadores de possibilidade e necessidade na língua brasileira de sinais (Libras)
Cód. Tít. 431328 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88429
Ítalo Rullian Webster Urbanski
Topônimos na BSL : análise de sinais que nomeiam cidades inglesas
Cód. Tít. 431332 | Acesse: http://hdl.handle.net/1884/88430
Katherine Fischer
Análise de aspectos fonológicos, morfológicos e lexicais de sinais de cores da LIBRAS
Cód. Tít. 431679 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88570
Thyago de Souza Santos
Ações co-operativas na interação entre pessoas surdas: análise da criação de termos científicos em Libras
Cód. tít. 431853 | Acesse: https://hdl.handle.net/1884/88658
Arte e texto: Stephany Saldanha