Por Victória Rodrigues
Hoje, 25 de julho comemoramos o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, a data foi sancionada pela Lei nº 12.987/2014. Tereza de Benguela foi uma líder do quilombo Quariterê, e viveu no século XVIII. Depois da morte do companheiro José Piolho, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e através de sua liderança resistiram à escravidão por duas décadas até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças do governador da capitania do Mato Grosso, Luiz Pinto de Souza Coutinho. Parte da população (79 negros e 30 índios) foi assassinada e outra, aprisionada.
A data é um marco na luta contra o racismo e uma oportunidade para trazer este tema à tona, pois os dados sobre violência e desigualdade demonstram a realidade que atinge massivamente a população negra, principalmente mulheres, incluídas as transsexuais. De acordo com associação de Mujeres Afro, na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas (54% da população) se identificam como negras. E tanto no Brasil quanto fora, esse grupo é o que mais sofre com as desigualdades socioeconômicas e raciais.
Em 1992, um grupo formado por mulheres negras organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana, onde foi discutido os diversos problemas enfrentados pela comunidade negra, bem como as alternativas de como resolvê-los. Esse encontro fez nascer a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas. A Rede, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), lutou para o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.
Não se pode negar que o movimento feminista como teoria e prática vem desempenhando um papel fundamental em lutas e conquistas, e à medida que formulou novas perguntas, estimulou a formação de grupos e Redes, bem como problematizou a questão das mulheres trans, deslocando a questão biológica.
Lélia Gonzales, nascida em Belo Horizonte (MG), formada em História e Filosofia, com mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia, uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, como mulher negra enfrentou grandes percalços para estar na universidade, onde problematizou o feminismo negro.
Gonzales questionava o fato da matriz do feminismo do Brasil ser eurocêntrica, pautada principalmente na trajetória de mulheres brancas e silenciando em relação às especificidades das mulheres negras latino-americanas. A autora foi uma das pioneiras no Brasil a fazer a crítica ao feminismo sob uma ótica racial. Em seus escritos, enfatizou a urgência de um feminismo negro que problematizasse a pluralidade de questões evidenciadas na vida da mulher negra brasileira.
Portanto, ao celebrar o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, enfatizamos o lugar fundamental da mulher quilombola e negra brasileira. E celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha por nos reconhecermos no seio da mesma luta.
Fonte: Fundação Cultural Palmares