Um dos objetivos do Projeto Comunicar Direitos é visibilizar as diferentes ações de grupos e coletivos que tratam de direitos. Essa semana o Comunicar Direitos divulga o relato do R.A.P. – Resistência Ativa Preta -, um grupo de produção de conhecimento negro do Curso de Direito da UFPR. Confira abaixo a integra do relato:
O R.A.P. – Resistência Ativa Preta – é o grupo de produção de conhecimento negro da graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Como seu nome sugere, tem como proposta a luta contínua por justiça racial dentro e fora do espaço acadêmico. Criado em 2019 por estudantes negros e negras, mais do que um grupo de estudos, o R.A.P., enquanto organização social e coletivo político, constitui-se como uma forma de aquilombamento, seja para estimular a permanência e a aproximação de estudantes negras e negros da Universidade Federal do Paraná, seja para denunciar o privilégio branco e a visão eurocêntrica na universidade pública, com o intuito de garantir cada vez mais o compartilhamento de saberes descolonizados.
O evento de inauguração das atividades do grupo, intitulado “R.A.P.: A nossa voz”, foi por si só um movimento de emancipação das amarras academicistas. Com a presença da professora Diva Guimarães, neta de escravizada e símbolo de luta da mulher negra paranaense, da professora Megg Rayara, primeira travesti negra doutora pela UFPR, e do rapper Mano Cappu, encarcerado por 18 meses pelo racismo do sistema de justiça criminal, o R.A.P. resgatou os valores da oralidade e da circularidade do conhecimento ao garantir a troca de experiências e a possibilidade de fala entre todas as pessoas presentes.
“(…) o R.A.P., enquanto organização social e coletivo político, constitui-se como uma forma de aquilombamento (…)”
Uma vez criado, o R.A.P. convocou a comunidade acadêmica a se debruçar em estudos sobre a presença negra no Paraná a partir de um curso de extensão, orientado pelo professor Luis Fernando Lopes Pereira. Com 35 pessoas inscritas, oito professores e professoras voluntárias, e desenvolvido em três módulos, o curso se dedicou primeiramente à história. O módulo “O que se cala” abordou os marcos de memória e resistência, a regulamentação da atividade negra pelas Posturas Municipais, a articulação da negritude no pós-abolição e as suas estratégias de emancipação a partir do letramento. O módulo “Sobrevivendo no Inferno”, por sua vez, tratou da cultura e da organização social negra, com formações sobre o rap, a violência na periferia, o racismo, a repressão policial, o encarceramento em massa e o assédio das drogas e do tráfico. Por fim, o módulo “Padê Onã” tratou de analisar os movimentos negros no Paraná a partir da sua história, dilemas, contradições e conquistas, para, então, estudar a eficácia da lei e das ações afirmativas na proteção dos interesses da população negra.
O curso deu aberturas para diversas articulações junto a movimentos sociais, organizações políticas e grupos institucionais, com especial destaque ao Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) e o Movimento Negro Unificado (MNU-PR). Desde então, têm sido realizados encontros em diversas modalidades, com o objetivo de alcançar cada vez mais pessoas sequiosas por justiça racial. Desde minicurso em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) sobre Criminologia e Racismo ministrado pelo professor Evandro Piza Duarte (UnB), a organização do lançamento do livro “Direito e Relações Raciais” da professora Dora Lúcia de Lima Bertúlio, perpassando por evento em parceria com o Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS) e o Grupo de Estudos em Direitos Autorais e Informação (GEDAI) sobre Raça e Tecnologia, até o mais recente ciclo de debates sobre a política de cotas raciais na graduação e na pós-graduação, o R.A.P. tem realizado ainda encontros quinzenais de formações internas sobre os mais distintos temas que tem provocado o corpo estudantil negro.
A ideia do R.A.P. enquanto espaço de aquilombamento, portanto, não é uma simples alegoria. De fato, encontramos nesse grupo uma forma de resistir ao pensamento hegemônico eurocêntrico e colonial. Mais do que isso, temos aprendido que unindo nossas experiências, nós nos tornamos mais fortes. Por isso nossa rede de apoio tem se estendido cada vez mais. Assim, entendemos que fazer parte do R.A.P. é dar continuidade à luta ancestral pela re-existência negra, não só física, mas também epistemológica. Ocupar a Universidade enquanto R.A.P., para nós, é a mais potente resistência ativa preta.”
Contato: resistenciaativapreta@gmail.com
Instagram: @resistenciaativapreta
Se você é discente, docente ou técnica/o da UFPR e participa de um coletivo, de grupo de pesquisa, projeto de extensão, ou trabalho burocrático (ou outro) que tenha relação com as diferentes interfaces da luta por direitos e quer divulgar o seu trabalho e de seu coletivo, participe do Comunicar Direitos preenchendo este formulário.
Assim, entendemos que fazer parte do R.A.P. é dar continuidade à luta ancestral pela re-existência negra, não só física, mas também epistemológica. Ocupar a Universidade enquanto R.A.P., para nós, é a mais potente resistência ativa preta.”